TEXTOS CRÍTICOS PUBLICADOS
A pesquisa de Denis Siminovich é a pintura em afluência com a fotografia na qual executa os desdobramentos sob a forma de collage – fotomontagem digital e pinturas mistas por meio de processos híbridos de criação. O trabalho configura-se em conceitualizadas, como ele se refere às séries de fotografias. Isso porque, por meio da documentação fotográfica digital acontecem manchas de naturezas diversas: virtuais, no meio digital, e pictóricas, quando as imagens são impressas. A pintura é concebida virtualmente, opticamente e mentalmente. A partir da estratégia de simulação digital o artista diz:
“Permeio um universo onde faço a minha Arte como um ready-made de idéias visuais.”
Para construir o seu ready-made, ele parte das operações de apropriações e fragmentações de imagens cotidianas que são hibridizadas e montadas para buscar outro sentido para os códigos visuais. A fotomontagem propõe uma interligação entre: a identidade das imagens, as imagens fotográficas digitais, a lembrança da pintura e a ação do artista como indivíduo criador de reflexões, que mesmo impressas pela máquina não deixam de estar próximas do humano. O gesto da pintura aqui é outro. É intenção quando Siminovich trata de temas como arte, sociedade, imagem, pintura, fotografia e visualidade, numa aproximação com a identidade do sujeito e da sua própria, o imaginário da época em que vive e as relações das pessoas no mundo contemporâneo.
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EXPOSIÇÃO FRAGMENTOS DE IDENTIDADES
Catálogo da exposição ENTRE CURADORIA A-Z, 2013 / COME IN: CURATORSHIP (páginas 60-61)
Ana Zavadil (Curadora do Museu de Artes do Rio Grande do Sul)A pesquisa de Denis Siminovich é a pintura em afluência com a fotografia na qual executa os desdobramentos sob a forma de collage – fotomontagem digital e pinturas mistas por meio de processos híbridos de criação. O trabalho configura-se em conceitualizadas, como ele se refere às séries de fotografias. Isso porque, por meio da documentação fotográfica digital acontecem manchas de naturezas diversas: virtuais, no meio digital, e pictóricas, quando as imagens são impressas. A pintura é concebida virtualmente, opticamente e mentalmente. A partir da estratégia de simulação digital o artista diz:
“Permeio um universo onde faço a minha Arte como um ready-made de idéias visuais.”
Para construir o seu ready-made, ele parte das operações de apropriações e fragmentações de imagens cotidianas que são hibridizadas e montadas para buscar outro sentido para os códigos visuais. A fotomontagem propõe uma interligação entre: a identidade das imagens, as imagens fotográficas digitais, a lembrança da pintura e a ação do artista como indivíduo criador de reflexões, que mesmo impressas pela máquina não deixam de estar próximas do humano. O gesto da pintura aqui é outro. É intenção quando Siminovich trata de temas como arte, sociedade, imagem, pintura, fotografia e visualidade, numa aproximação com a identidade do sujeito e da sua própria, o imaginário da época em que vive e as relações das pessoas no mundo contemporâneo.
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EXPOSIÇÃO FRAGMENTOS DE IDENTIDADES
Em seu processo artístico Denis Siminovich pesquisa questões relativas às hibridações a partir de cruzamentos de procedimentos ligados à tecnologia. Desde 2008 o artista vem desenvolvendo uma produção visual, com base na fotografia digital, compreendendo fragmentos de identidades de retratos e autorretratos, produzidos e apropriados.
Por definição, retratos e autorretrato são representações que o artista faz de seus semelhantes ou de si mesmo. Estas representações são historicamente ligadas a processos de personalização e de individuação, através da transmissão das características físicas e expressivas do indivíduo, que tiveram início no surgimento da modernidade, no Renascimento italiano.
As questões que emergem do trabalho atual de Denis Siminovich, no entanto, vão a contracorrente com a idéia da identificação de um Eu ou de uma subjetividade própria ao sujeito. Estão em maior consonância com os múltiplos regimes de despersonalização em operação na arte, desde os anos 70, tornando problemática a relação entre a imagem que o artista produz, em retratos e autorretratos, com a suposta identidade que lhes corresponderiam.
Através dos procedimentos de fragmentação e (des)montagem digital, Denis Siminovich opera de maneira singular entre os regimes de despersonalização presentes na arte contemporânea. Ele consegue fazer reverberar seus procedimentos com problemas existenciais, sociais e políticas. Seus retratos e autorretratos sugerem processos de alteridade que não se esgotam na operacionalidade visual obtida pelas fraturas nas imagens: propõem lançar inquietações sobre questões que envolvem o sujeito, tanto na arte como na vida.
Sandra Rey (Curadoria da Exposição Fragmentos de Identidades)
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EXPOSIÇÃO FRAGMENTOS DE IDENTIDADES
Acompanho o trabalho do Denis desde o início. E ele me surpreende a cada novo traço, a cada nova pincelada. Tenho certeza de que seu crescimento vem da seriedade com que encara seu trabalho, manifesta pela coragem de expor-se sem reservas e pelo desejo de configurar suas perplexidades.
Fernando Baril (Artista Homenageado)
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE ARTES - DEPARTAMENTO DE ARTES PLÁSTICAS
LABORATÓRIO DE CRIAÇÃO DE TEXTOS II - ICLÉIA BORSA CATTANI
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE ARTES - DEPARTAMENTO DE ARTES PLÁSTICAS
LABORATÓRIO DE CRIAÇÃO DE TEXTOS II - ICLÉIA BORSA CATTANI
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE ARTES - DEPARTAMENTO DE ARTES PLÁSTICAS
LABORATÓRIO DE CRIAÇÃO DE TEXTOS II - ICLÉIA BORSA CATTANI
O Olhar Singular de Denis Siminovich
Alexandre Conrado
O trabalho de
Denis Siminovich trás à tona questões cruciais à crítica da sociedade
contemporânea. Ao colocar no foco central de suas investigações artísticas a compreensão
da singularidade de seu olhar, e de sua forma particular de relacionar-se com o mundo
que o cerca, Denis não tem a intenção de requerer para si o a posse de um
"dom místico" que o colocaria no patamar de "gênio
artístico", mas sim de reivindicar sua condição enquanto sujeito, capaz de
tomar suas próprias decisões. Seu trabalho convida o público fruidor a
refletir sobre seu papel e sua posição enquanto indivíduo social.
Dentre os alvos do olhar deste artista encontra-se a seriação - produção
em série, típica de
linhas de montagem. Sobre este aspecto, Cattani (2004) dedica um capítulo de
seu livro homônimo, onde se ocupa do tema da repetição na arte moderna e
contemporânea. Dois entre os aspectos problematizados pela autora merecem especial
atenção na análise da obra de Denis: a repetição enquanto elemento de individuação
e a mesma enquanto crítica ao novo.
Segundo Cattani, a repetição de um procedimento artístico contribui para a marcar a
individualidade do artista, uma vez que a recorrência de similitudes entre as obras
resultantes faz com que estas cumpram o papel de assinatura do artista. Denis, em seu trabalho Corpos
Revelados (2002), adota uma série
de procedimentos bastante específica e
sistemática, na qual apropria-se de material descartado por fotógrafos
retratistas - "corpos sem cabeça" - e os toma como modelo para a realização de uma de suas pinturas - realizadas em óleo sobre tela e
nomeadas anonimamente com números. Embora
cumprindo um rigoroso ritual de
passos para que as peças aproximem-se
nas suas qualidades formais, denota-se marcante o esforço do artista em atribuir uma diferenciação singular e individual
às peças, a serviço do qual são acrescentados
detalhes nos corpos, de modo que estes, mesmo desprovidos de rostos obtenham uma identidade.
Estabelecendo um diálogo paralelo com as pinturas também foram expostos - acomodados
em uma caixa de cor branca - os fragmentos de fotografias que serviram de modelo
às pinturas de Denis. Estes foram cuidadosamente montados pelo artista em uma
tira dobrável de papel remetendo a rolos de filmes. Nestas tiras algumas cópias do
mesmo corpo estão dispostas lado-a-lado e próximas a outros corpos em que as
pessoas estão postadas em posições semelhantes reforçando o conceito da repetição
e da produção em série. Desta forma, ao mesmo momento em que faz do seu
processo sua marca singular, o artista deixa em suspenso a crítica à questão do
indivíduo e da repetição.
Outro aspecto que não deve ser ignorado é o da repetição enquanto crítica
ao novo. No caso Denis a problematização não encontra no seu cerne o postulado
da "obra-prima" ou da criação "genial", mas sim à nova
condição contemporânea e os meios massímicos de reprodução de
ideologias. Sobre a questão da serialidade o artista expõe:
“(...)[as telas] constituem, para mim, a
intensificação do conceito de anonimato
das identidades e a acentuação de sua importância.” (Siminovich, 2002, p.51)
Também através de dedicatória de sua monografia de conclusão de curso
"as pessoas que aparecem nos fragmentos de fotografia"
torna-se evidente a importância dispensada pelo artista aos
socialmente invisíveis. Mais do que àqueles que são anônimos é
possível perceber que o olhar de Denis, nesta série, está preocupado com a
questão da subjetivação. A capacidade de um pensamento crítico e de uma
reflexão acerca de questões sociais encontra-se abalada na
contemporaneidade por um sistema de acumulo de bens de consumo onde os
espaços de vivência são, muitas vezes, substituídos pelo simulacro, e a
experiência empírica por "verdades absolutas" fabricadas e
veiculadas através dos meios de comunicação de massa.
Bartucci (2002) nos chama atenção para as "configurações subjetivas contemporâneas,
nas quais o autocentramento se conjuga ao valor da exterioridade", ou
seja, a prática social onde a obtenção de valores materiais, por vender ao
indivíduo a ilusão de visibilidade e de aceitação no grupo social,
se antecipa à constituição deste enquanto sujeito capaz de refletir
acerca da realidade que o circunda. Neste sentido é possível crer
que a investigação artística de Denis em muito corrobore a idéia de que, mais do
que a figura metafórica de "corpos sem cabeça", ou de números em estatísticas
de consumo, o público fruidor de seu trabalho deva exercer seu direito de
pensar acerca das questões do meio social ao qual pertence. Nesta
mesma série, mas especificamente na tela intitulada "no 3", o artista
introduz a representação do "pião" como materialização de sua
idéia de tempo e de resgate de memória. Diversas relações entre a
passagem do tempo e as características intrínsecas do "brinquedo"
são descritas na monografia do artista:
“Passei, com isso, a associá-lo [- o pião -] a memória do(s) tempo(s) (...) da passagem das horas, do jogo com o tempo.” (Siminovich, 2002, p.58)
A representação
do "pião" carrega com sigo idéias como a de ciclo, de movimento,
de tempo transcorrido. Em sua tela "no 6", o artista representa um
"pião" junto a um corpo fragmentado - é importante perceber que
esta fragmentação não poupa nem o próprio representante do tempo: o
"pião". Cabe aqui uma reflexão sobre a qualidade do
tempo contemporâneo, ou melhor, sobre o formato através do qual este tem
se manifestado em nossos dias. Será que podemos dizer com convicção que ainda
vivemos o tempo cíclico das horas descrito pelo giro do "pião"? Creio
que seria mais coerente falar de um tempo entrecortado em
instantes, mais próximo, talvez, dos fragmentos pintados pelo artista.
Esta modalidade de percepção temporal é comum em nossa sociedade
contemporânea, onde a demanda social é pela produtividade, minimização
das perdas e maximização do lucro. Atualmente não são raras as reclamações
acerca da escassez do tempo e é este tempo roubado que o artista se propõe a
resgatar através da evocação das memórias perdidas, dos tempos perdidos e das
cabeças perdidas. A obra de Denis encontra seu valor como depoimento do presente
motivação ao resgate do sujeito contemporâneo.
Referências:
BARTUCCI, Giovanna (org.). Psicanálise, arte e estéticas de subjetivação. Rio de janeiro: Imago. 2002.
FARIAS, Agnaldo. Idéia Cattani. Rio de Janeiro: Funarte,
2004.BARTUCCI, Giovanna (org.). Psicanálise, arte e estéticas de subjetivação. Rio de janeiro: Imago. 2002.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE ARTES - DEPARTAMENTO DE ARTES PLÁSTICAS
LABORATÓRIO DE CRIAÇÃO DE TEXTOS II - ICLÉIA BORSA CATTANI
O Reflexões sobre a
Obra de Denis Siminovich
José Carlos Fernandes Saraiva
Se há uma grande diversidade na
obra de Denis Siminovich, encontramos também em seu trabalho signos que se
repetem. Falo da presença insistente de um peão que nela irrompe, vez por
outra, fazendo um enigmático contra-ponto a sua narrativa visual. Esses peões
habitam seu território plástico tal como nós semânticos a entrelaçar campos
diversos de sua subjetividade. Não sabemos bem a que vem, mas eles estão ali a
marcar presença dizendo talvez de um tempo que ora se conecta com a atualidade.
Presente e passado simultaneamente fundidos nessa imagem lúdica da infância.
Inicialmente sua pintura prescindia de muitas cores, apenas o preto e o
branco cobriam suas telas. Talvez um recurso continente, uma atenção maior às
questões da forma e composição. Posteriormente, outras cores vão,
paulatinamente, colorindo seu trabalho.
Paralelamente a pintura e depois agregando-se a ela Denis lança mão de
fotos desprezadas encontradas no lixo de um estúdio fotográfico. São apenas
troncos de pessoas que lá pousaram para tirar suas fotos 3X4. Esses corpos
decapitados e anônimos tem um efeito impactante aos olhos do espectador e mais
uma vez o enigma habita sua obra. Inicialmente se ocupa dessas fotos
agrupando-as em caixas brancas a partir de relações lógicas, embora pouco
perceptíveis; conjuntos estabelecidos pelas cores das roupas, pelo gênero das
pessoas, por seus biótipos ou sua postura. Tais séries apresentadas no interior
dessas caixas dão a incômoda impressão de corpos anônimos resignadamente aprisionados
nesses niçhos. Essas imagens irão se transformar em pinturas e muitas delas
compartilharão o espaço como seu enigmático peão e ascenderão as dimensões do
corpo humano.
Também em sua pintura irá transitar do mundo real até a abstração. Tomando
um elemento da realidade como ponto de partida fará essa transposição de um
campo a outro. Investiga esse objeto que visto como urna metáfora buscará
extrair dele todos seus traços metonímicos. seus cheios, seus vazios, sua
textura. sua cor. Persegue, corno refere, sua potência ou essência.